21.1.06

(?!)

"Podia dizer-te muita coisa. Podia dizer-te que me corres no sangue como droga que injecto nas veias ao acordar. Podia dizer-te que a minha voz te procura na escuridão dos meus demónios. Que eles são tu. Que o teu nome está em todas as ruas e que o teu cheiro me sufoca as narinas quando o meu coração tenta respirar. Podia dizer-te que a metafísica das coisas deixa de fazer sentido quando te sinto o quente das mãos e o doce do olhar. Podia dizer-te que te sei de côr, cada milímetro de pele, cada traço do rosto, cada sinal escondido, cada impulso nervoso que te corre no corpo, cada arrepio de sangue que te passa na alma. Podia dizer-te que gosto de ti como quem gosta de gostar e que és o frasco da vida que desejo sorvir a conta-gotas. É, eu podia dizer-te muita coisa. Mas hoje não me apetece. Não me apetece morrer outra vez."

18.1.06

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"É sempre de manhã, depois de acordar e antes de abrir os olhos, que tomo consciência das minhas fragilidades.
Era nessas alturas em que faço um balanço impiedoso de mim própria, que deveria tomar as grandes resoluções da minha vida; mas estou sempre ensonada demais para evoluir e depois de lavar os dentes já não há nada a fazer: calço com os sapatos a personalidade da véspera e moldo-me sem resistência àquela plasticina parecida comigo."

Rita Ferro

11.1.06

Cleaning up the heart...

"Os deslumbramentos a haver são das piores coisas que podem acontecer. E a mim, bem a mim acontecem-me a cada segundo, a cada minuto, a cada hora que passa. Que mania esta, que eu tenho de pensar que as coisas podem acontecer e surgir na ilusão do momento e durar para sempre.
Andei a viver demasiado tempo absorta em ti, no tempo que tu me davas e atiravas, quando querias e quando podias. Custa-me admitir mas é verdade. Não sou racional ao ponto de conseguir deixar-me ir só até determinada altura. Se me envolvo em algo, dou o melhor de mim ou aquilo que julgo ter de melhor.
Penso sempre com o coração nas mãos, sempre sempre sempre. Faz bem ao mesmo, abrir-mo-lo de vez em quando, limpá-lo, retirar certas recordações e armazenar tudo outra vez. Reciclar sentimentos se assim, se pode dizer. Então eu só estou a executar aquilo em que acredito. A armazenar as coisas, a guardá-las com carinho e ternura. (...) Como te disse no Natal, as pessoas importantes e os bons momentos que elas nos proporcionaram não se esquecem. Contudo, há coisas que quero apagar, deitar fora. (...)
O que posso ter sentido durante uns breves instantes (e que às vezes ainda sinto) quando olho para os teus olhos de um cinzento-esverdeado e me perco neles, mais não é do que a irrealidade do presente. Sê feliz, vive, brinca, faz o joguinho de sedução...mas pára de olhar para mim. Quando nos cruzarmos, falarmos ou simplesmente me vires, não me olhes de novo com o teu olhar terno e brilhante, senão ainda perco a coragem e deixo-me levar...
Fico presa aquilo que me dás, mesmo correndo o risco de depois, tu ficares sem reacção, ao não saberes o que fazer com esta rapariga que se entregou e caiu de pára-quedas nas tuas mãos."

*Começo a ter a coragem necessária para desenterrar certas coisas, olhar para elas uma última vez e encaixá-las no seu devido lugar definitivamente.

8.1.06

Coisas que não interessam a ninguém.

Gosto de música. Gosto de pessoas. Gosto de livros, de os devorar de um sôfrego, de os sentir por entre os dedos, de lhes sentir o cheiro a cada página, de imaginar os cenários, de me perder neles, de fazer noitadas e directas por eles. Gosto dos deslumbramentos a haver. Gosto de enrolar aquele caracol mais irrequieto do cabelo que teima em estar fora do sítio. Gosto de rapar o tacho dos doces e das compotas da madrinha. Gosto de acordar e comer umas torradas estaladiças acompanhadas de um bom sumo de laranja natural. Gosto de conversar por conversar. Gosto do prazer que me dá escrever mesmo que depois apague tudo. Gosto de sonhar. De acreditar, de imaginar. Gosto que gostem de mim. Gosto de pequenos amores, aqueles amores tranquilos, sem pressas, cheios de rotinas pequeninas, a preencher o vazio dos dias. Gosto de estar com os que me são mais próximos. Gosto de me prender nos olhos de alguém, de tentar perceber o que há por detrás do olhar. Gosto dos meus amigos. Gosto de ir na rua, no metro, no comboio a observar as pessoas, a imaginar e a inventar histórias onde as enquadro. Gosto de cheiros doces, sensuais, quentes, um pouco adoçicados. Gosto de um caneca de café fumegante ao acordar quando tenho vontade de saborear algo bom. Gosto de sorrisos com covinhas. Gosto que se apaixonem por mim. Gosto de estar apaixonada todos os dias como se fosse o primeiro. Gosto de cócegas. Gosto de beijos, dos mais longos aos mais demorados, dos mais inocentes aos mais elaborados, dos mais doces aos mais sedutores. Gosto da água quente do mar em dias de chuva. Gosto de dormir. Gosto de não ter horas para acordar. Gosto de alfazema, sandalo e outros tantos cheiros. Gosto de incenso. Gosto da relatividade e da perspectiva das coisas. Gosto de rir a bandeiras despregadas. Gosto de sorrir, de ser feliz e de fazer feliz o outro. Gosto das folhas que caem no Outono, de as pisar e ouvir um estalar suave. Gosto de castelos em ruínas, palácios, casas palacianas e antigas. Gosto de antiquários. Gosto de observar desenhos. Gosto de amenas cavaqueiras sem príncipio nem fim. Gosto do silêncio do campo. Gosto de desafios, de me tentar superar. Gosto de chorar. Gosto de ser caprichosa. Gosto de recordações, de memórias, de baús, de cheiros e tralhas velhas. Gosto de sotãos. Gosto de falar em voz alta. Gosto de viajar, conhecer novos sítios, novas pessoas. Gosto de fazer zapping. Gosto de nomes completos, datas de nascimento, signos e horóscopos. Gosto do bater das ondas do mar nas rochas ao entardecer ou logo de manhazinhã, quando a praia está quase deserta e todo o areal espera ser percorrido. Gosto de um banho relaxante, com sais e velas. Gosto da sedução, o joguinho ao qual ninguém escapa. Gosto de olhar para ti. Gosto de te sentir por perto. Gosto de sentir saudades, daquelas que apertam o coração, o definham e regeneram. Gosto de lencóis brancos, que na manhã seguinte à cama ter sido feita de lavado se encontram amarrotados devido ao enrolar nas minhas pernas durante a noite. Gosto de acreditar em coisas inocentes, infantis, ingénuas, simples. Gosto de adereços. Gosto dos meus ganchos com borboletas, elefantes, bonecas, às riscas que encontro na secção de ganchos e afins infantis. Gosto de flores, de cheiros campestres, de jardins cheios de vida e repletos de cor. Gosto que me mimem e me beijem. Gosto de fazer meiguices e de as receber. Gosto de abraços. Longos ou demorados, fortes ou fracos, o que interessa é a intensidade. Gosto de sentir o meu coração a bater depressa, o sangue a afluir às maçãs de rosto, o sorriso a abrir-se de par em par quando me apaixono. Gosto da vida. Gosto de saber que o Universo é infinito. Gosto de ler artigos interessantes, de sublinhar, de anotar ao lado aquilo que me vem à cabeça. Gosto das minhas aulas de Português e de Psicologia. Gosto de Psicologia. Gosto quando me dizem que sou bonita. Gosto de refutar, discutir, argumentar e discodar. Gosto de opostos. Gosto de ajudar, de me sentir útil. Gosto de esparguete à bolonhesa, empadão de carne e peixe grelhado. Gosto de todo o tipo de salada. Gosto de espigas e searas. Gosto de ver o nascer e o pôr do sol. Gosto de passar uma tarde inteirinha a ouvir música. Gosto do frio de Janeiro e do céu estrelado. Gosto do verde e do azul. Gosto do arco-íris. Gosto de sentir, cheirar, ver, saborear. Gosto de relembrar e eternizar momentos. Gosto de ver um bom filme no cinema em boa companhia. Gosto de receber uma mensagem inesperada. Gosto quando me dizem "Olá". Gosto de dizer "acho-lhe piada", quando me começo a interessar por alguém. Gosto de sentir que a minha pele é macia e suave no encontro com o outro. Gosto de ouvir velhos cd´s esquecidos. Gosto do imprevisto. Gosto de dizer e repetir a palavra doce. Gosto de palavras. Gosto de andar pela Net sem rumo definido, a procurar textos, imagens, livros, músicas. Gosto de conversar horas a fio ao telefone, mesmo que sejam aquelas conversas banais. Gosto de não saber tudo. Gosto de fazer as pazes. Gosto do meu coração anti-stress. Gosto de tirar fotografias a tudo o que vejo. Gosto de pensar que o futuro vai ser brilhante ao lado de alguém com quem desfrute em plenitude de um amor sincero e verdadeiro. Gosto de pensar que quando casar, será para sempre. Gosto das quatro estações do ano e dos quatro elementos, sem excepção. Gosto de mãos masculinas, com dedos compridos, delgados e imponentes que transmitam segurança ao flanco feminino. Gosto de uma boa saída sexta-feira ou sabádo à noite para descomprimir. Gosto de gostar. Mesmo que seja gostar por gostar.