22.11.05

Amanhã quando acordares, sentirás a minha inexistência na tua vida. Vais levantar-te sem o meu cheiro entre os teus lençóis, sem o aroma salgado da junção da tua pele com a minha.
Vais dirigir-te à cozinha, encostar-te-às à bancada e fumarás um cigarro. O teu primeiro cigarro do dia, aquele que quando acordavámos juntos, eu nunca te deixei saborear. Vais sentir-te realizado numa satisfação ilusória e pensarás na minha estúpida relação com o tabaco. O gosto pelo cheiro e pela sensualidade inerente ao acto que algumas pessoas têm, a meu ver versus o facto de detestar que alguém fume.
Abrirás a janela e sentirás que o sol está diferente. Menos quente, menos reconfortante e menos espontâneo. O ar não estará mau, mas sim menos bom. Faltará lá a minha gargalhada parva, o meu beijo repinpando na tua face enquanto os meus braços se enrolam à volta do teu pescoço. Faltará lá o pó de açúcar com o qual eu polvilhava o teu corpo e temperava a tua vida antes de te largar, e com o qual eu te sussurava intimamente um "até logo". Vais sentir falta do regaço que sempre te ofereci sem esperar nada em troca.
E quando te aperceberes estarás a divagar numa noante sem retorno. Será como se existisse um rio a separar o teu "eu" do "eu" que eras quando estava contigo. A linha ténue que nos afastou parecer-te-à tão nítida e tão clara que cada vez mais, sentirás a distância. O regato correrá nessa linha ténue mais e mais para trás, para ser engolido pela sua nascente.
E eu ficarei aqui, onde me largaste e tu ficarás aí, onde paraste e donde não conseguirás partir. E será mais um dia. Só mais um. Daqueles infindáveis dias em que a minha concepção de amor se emarenha em ti e te sufoca.


15.11.05

Telefone

O relógio marca a 1h15 da manhã.Tenho o corpo dormente e estou ansiosa.O telefone toca e do outro lado da linha ouço a tua voz.Sorrio e escuto-te como quem escuta uma melodia que toca ao coração.Falas-me com aquele tom de voz doce e terno que só tu sabes e eu sinto-me a flutuar à mercê das tuas palavras.É tarde e os meus olhos fecham de sono, mas sei que a conversa se avizinha longa e que a cama quentinha vai ter de esperar.
Sussuras coisas ao de leve, contas-me o teu dia, referes a chuva que apanhaste no caminho para a escola.Dizes que gostas de mim.Muito.Esperas que eu também te aconchegue o coração e te massage a alma com palavras doces.Acabo por pronunciar as palavras proibidas.
As minhas palperas descaiem e eu imagino-te aqui.Ao meu lado, enquanto me envolves no teu abraço.Arrepio-me e quando dou conta já não te estou a ouvir.
Adormeço.E tu também adormeçes.Murmuras coisas irrelevantes e sem sentido.Sonhas e divagas nessa nuance de pensamentos que não descodifico.Rimo-nos muito.Proferimos umas quantas palavras de saudade e de amor e despedimo-nos com beijos intermináveis.Mais uns quantos adeus, uns quantos risos, uns quantos silêncios, uns quantos múrmurios e por fim a despedida.Até amanhã meu amor.

[texto rebuscado ao meu subconsciente]

12.11.05

Grinalda de corações


Não existe apenas um momento, uma situação ou um dia mais feliz.Existem vários.E em todos eles, voçês estão presentes.Voçês que me escutam, que me acompanham, que me aconselham, que partilham comigo o dia-a-dia e os pequenos percalços que a vida tem.
Se sou feliz, devo-o em grande parte à devoção, ao carinho e ao amor que recebo dos que me rodeiam.
Para mim, verdadeiras amizades são de extrema importância.Tenho um círculo de amigos não de grande tamanho mas de grande sentimento.Ao meu lado, tenho aqueles de quem gosto e por quem nutro algo de indestrutível.Hoje não é um dia especial, mas os amigos lembram-se sempre e a toda a hora.
Não há dúvidas.Tenho as melhores amigas do mundo.

5.11.05

A Casa

A luz começava a quebrar e as sombras avançavam sobre a casa branca de infância.A casa que ela tão bem conhecia.A casa das brincadeiras de criança, a casa dos refúgios naqueles dias de adolescência, em que a vida lhe dava um pontapé particularmente duro.
O ar, o ambiente, o cantar dos pássaros, tudo permanecia igual.As portadas verde-garrafa das janelas esperavam-na abertas, como se ela fosse uma filha antiga.As memórias eram fortes e o bater do coração era suave.
Atrás da casa, entre os jardins de bungavílias, estendia-se o pátio.As pedras antigas estavam agora mais gastas, mas ainda assim guardavam os risos, as correrias, as quedas e a nostalgia que sempre ali encontrava de cada vez, que se sentava no chão coberto de hera.
Tinha prometido a si mesma, só trazer aquela casa um Ele que soubesse amar em silêncio e falar com as mãos.
Quando ele apareceu, ofereceu-lhe mais do que amor e mais do que gestos.Ela retribui-lhe da melhor forma que sabia.Levou-o à casa de infância, à casa que tinha a chave dela.A chave da menina que ela tinha sido, era e sempre seria.Olhavam-na agora em silêncio, de mãos dadas absortos à realidade envolvente.
E era assim, que ali iam permanecer.A guardar o pátio com o olhar e a lançar sobre ele toda a nostalgia e intimidade que existia entre eles.Porque era ali que se sentiam bem e porque era ali que queriam estar.

3.11.05

Tu ou tu?

Admiro-te pelo que és.Pelo que demontras ser, pelo que fazes, pelo que dizes e pela forma suave e ao mesmo tempo sarcástica com que escutas.Mas também tenho receio.
Assusta-me a quantidade de tu´s que guardas dentro do peito.Não percebo o porquê de não os mostrares, ou se calhar até percebo.Talvez será porque não sentes tudo à flor da pele como eu, que sou toda feita de coração.Já tu, és uma pessoa fria e cerebral, que vê e pensa tendo sempre por base, a lógica e a razão.Também sabes ser doce, mas nunca, nunca baixas a guarda.Foges dos sentimentos, como uma criança assustada foge do infantário ou da primária, ou se preferires, agarras-te às tuas convicções, tal como as crianças se agarram às pernas e às calças dos pais, nos primeiros dias de escola.
E isso confunde-me.Todos esses tu´s que tu tanto reprimes de cada vez que estamos juntos embaciam tal qual a névoa, a clareza de espírito que tanta falta me faz.É como se o dia chuvoso de hoje se instala-se na minha alma, entendes?
Todavia não me impedem de ao mesmo tempo, gostar do tu que conheço.A questão é, então, Tu ou tu?
A resposta não sei.Sei sim e, isso também importa, que o teu "Eu" completo é fascinante e que de vez em quando, poderias e deverias soltá-lo.Dar-lhe-ia auto-estima e faria com que tu próprio te sentisses bem.No fim de contas, tudo isto vem a propósito de uma mera interrogação, Qual foi a última vez que te vi sorrir de verdade? *